terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

3 - Valores, vivências e quotidiano

A arte gótica

Desenvolvimento urbano do século XII e XIII visto com alguma inquietação pela ortodoxia católica, adversa ao espírito aberto e cosmopolita sempre favorável à discussão e à dissidência herética. Vê com desconfiança o movimento cultural ligado ao ressurgimento das cidades com Universidade na Europa Ocidental.

Mudanças históricas explicam a expansão do estilo gótico:
  • aumento da população urbana que exige templos mais amplos e salubres. 
  • Iniciativa das novas construções religiosas passa para as mãos do clero subtraindo a construção aos senhores feudais cujos limitados recursos impunham edificios mais pequenos. 
  • Aumento de poder das cidades aliadas da Igreja contra o poder excessivo de reis e senhores. 
Inovações técnicas importantes no gótico: ogiva, arco em ogiva, abóbada de cruzamento de ogivas arcobotantes, profusão luminosa no interior, profusão decorativa e artística, opulência e luxo dos vitrais rosáceas e frescos. Verticalidade e monumentalidade do edifício.

Exercícios página 186.
  • identificação dos elementos arquitectónicos da basílica gótica
  • Realização de um ensaio. 

Mutações na expressão da religiosidade: mendicantes e confrarias

Dominicanos e franciscanos surgem como movimentos religiosos de intervenção religiosa no ambiente urbano. Missão evangelizadora que apela à moral católica e ao sentimento religioso e piedoso para dominar a mentalidade urbana evitando os excessos do materialismo. Evitar a descrença e apoiar os pobres e desvalidos.
  • Os dominicanos instalam-se  nas cidades principalmente universitárias buscando o confronto de ideias. 
  • Os franciscanos assumem-se como modelos de simplicidade e de despojamento recordando ao homem da cidade, cioso de riqueza e luxo a necessidade de não esquecer os valores da moral cristã e da mensagem original do cristianismo. 
  • Confrarias como associações laicas ou religiosas agrupadas em torno de um santo protector com vista a desenvolver uma missão de beneficência e entreajuda.
  • Corporações como associações de entreajuda de artífices que controlam os preços e a produção. Determinam as hierarquias profissionais dominadas pelos mestres.

Expansão do ensino elementar; a fundação das universidades

Desenvolvimento das universidades impulsionado pela burguesia das cidades italianas que exige uma preparação mais adequada dos seus filhos para assegurar a prosperidade dos negócios das famílias.

Sinal de afirmação também da burguesia das cidades contra o poder ainda exagerado dos senhores feudais com o apoio dos reis (caso de Portugal). Apoio da Igreja que procura sempre manter intocável o saber biblico e o primado das escrituras procurando a todo o custo impedir as interpretações alternativas mantendo o ascendente sobre os espíritos.

Universidade como corporação de alunos e mestres. Lições em latim, lingua universal que permite a circulação de estudantes entre as várias universidades europeias usando o método escolástico de ensino, magister dixit, baseado nos sete saberes: Gramática, Retórica e Dialéctica (Trivium), aritmética, geometria, astronomia, música (Quadrivium). 


Saber sujeito a concepções de ordem e unicidade intelectual impede uma leitura directa das obras dos antigos mas evitando com dificuldade crescente a polémica e a crítica.








A cultura erudita e cultura popular


Coexistem duas correntes distintas de cultura erudita:
  • Corrente religiosa influenciada pela igreja, conventos, mosteiros e algumas universidades
  • Corrente adstrita às cortes reais e senhoriais. Enriquecida por elementos trovadorescos, musicais e poéticos enaltecendo os mecenas. Cantigas de amigo, de amor, cantigas de escárnio e maldizer, poemas trovadorescos, romances de cavalaria, crónicas. 
Os humanistas preocupam-se pela translatio imperii et studii (transferência do poder e da cultura) desenvolvida desde a época de Carlos Magno. Segundo este conceito, o poder e a cultura tiveram o seu início na Grécia transferindo-se depois para Roma até à queda do Império. Alguns acreditavam que seria na França que se desenhava uma nova etapa desta transferência do poder e do saber e a escrita, a obra literária enaltecedora de feitos e heroísmo tinha um papel importante neste processo de enaltecimento da cultura. 

Segundo Du Bellay, a glória dos heróis nacionais não podia ser assegurada senão pelos escritores. Cultura e poder estavam ligadas porque o poder dependia da cultura. E a cultura da época devia fundamentar-se nos escritos dos antigos e nos seus exemplos para evidenciar os feitos e obras dos modernos. As metáforas da guerra mostravam que a escrita era um meio para transferir poder tal como as batalhas, e os escritores franceses deveriam escrever em francês e já não em latim para enriquecer a língua e assegurar um corpo de obras literárias que assegurassem a glória nacional. A escrita tornava-se assim uma aliada de peso no processo de centralização do poder real.
Rejeitando o latim, língua oficial da Igreja, rejeitava-se a submissão à religião e acentuava-se uma emancipação cultural perante as forças mais conservadoras e o poder escolástico. A recitação e a oralidade asseguravam a divulgação dessa cultura e desse espírito que ainda é o da cavalaria e da fidelidade, vestígio de um cânone de valores e de uma ética romano-cristã de recuadas épocas feudo vassálicas. Ronsard, Du Bellay, Erasmo são exemplos desta nova visão em que o humanismo aberto emerge sobre uma espiritualidade fechada 

Existe ainda a cultura popular, oral. Integra elementos da cultura romano-cristã.