quarta-feira, 10 de março de 2010

U3. A produção cultural do Renascimento

Distinção social e mecenato 

Humanistas desvalorizavam a influência da cultura medieval nas novas correntes renascentistas. Apelidavam a arte dessa época como bárbara designando-a de gótica em referência aos godos bárbaros. 

Salientaram o individualismo, o humanismo e o culto da racionalidade para associar o seu saber ao dos autores clássicos cuja cultura e riqueza pretendem recuperar e atribuir-se. 
O Renascimento surge assim como mudança e transição para a modernidade que no entanto não é possível delimitar com rigor no tempo já que os últimos tempos da Idade Média assistiram a várias mudanças na cultura e na sociedade que já não se enquadravam na mentalidade tipicamente medieval e romano-cristã.

Factores que marcam habitualmente a entrada na Idade Moderna: 
  • A fuga dos sábios bizantinos para Itália em 1453 após a tomada de Constantinopla pelos turcos. 
  • A invenção da Imprensa e o impulso cultural na divulgação das obras antigas.
  • Viagens de descobrimentos portugueses permitem abrir os horizontes da experiência humana e desenvolver a visão humanista e crítica sobre a natureza e o Homem. 
  • Afirmação libertária das repúblicas italianas permite o desenvolvimento de uma mentalidade cosmopolita e liberta das teias opressivas do pensamento cristão, medieval. 
  • Afirmação das línguas nacionais impulsionadas pela imprensa, relegando o latim para segundo plano. 
A Arte- imitação e superação dos modelos clássicos
  • É a partir da Idade Média com a descoberta de obras de autores gregos e romanos na Espanha e Sicilia muçulmanas que ressurge um interesse acentuado pela antiguidade. Tal situação corre paralela com o dinamismo urbano medieval que se verifica a partir da formação das universidades medievais da Itália, França e Flandres.
  • O ambiente político também favorece a emergência dos individualismos. Na Itália, dividida pelos poderes  e rivalidades urbanas locais as cidades de Florença, Veneza, Roma e Génova tornam-se centros majestáticos de irradiação de cultura e ostentação. A arquitectura majestosa do Império Romano são testemunhos do classicismo e instigam à superação dos modelos antigos.
  • Em Portugal, o Manuelino é derivação meridional do gótico com influências marítimas e orientais, foi influenciado pelo Renascimento flamengo.
A centralidade do observador na arquitectura e pintura
  • Importância do Antropocentrismo como matriz temática da arte do Renascimento. Equilibrio, perfeição formal, técnica, racionalidade e espiritualidade sujeitas a uma leitura do mundo em que o homem e a natureza se encontram na origem de todos os fenómenos. 
  • Brunelleschi acentua a perspectiva, sistema racional que organiza todos os elementos do conjunto. 
  • temáticas religiosas, realismo naturalista, pintura a óleo sobre tela, transparência plástica, sfumatto, naturezas mortas, 
  • Escultura naturalista também libertando-se das paredes e nichos arquitectónicos torna-se de novo arte autónoma que põe em evidência o homem, o individuo e as suas qualidades libertando-se de temas religiosos. Escultura equestre e busto recuperam importância. 
Recurso alunos Mecenato
  • O brilhantismo cosmopolita das repúblicas italianas e flamengas permite o aparecimento de uma classe de homens de negócios e príncipes interessados em afirmar o seu poder protegendo a arte e os artistas. São os mecenas. Bispos, papas, príncipes e homens de negócios rivalizam entre si em busca de um prestígio associado à intelectualidade renascida do classicismo e do modelo de homem completo. Festas de corte e palácios são espaços de exibição do poder e da riqueza. Educação, bom gosto e requinte distinguem os homens e mulheres sendo por isso importantes os atributos físicos, intelectuais e de carácter bem como a origem social de cada um. No entanto também na Itália surge o modelo de homem que ascende socialmente pela iniciativa individual, o condottieri das cidades estado que prefiguram a dissolução futura da sociedade de ordens. 
Mecenato em Portugal
  • Em Portugal, monarcas como D. João II, D. Manuel ou D. João III surgem como mecenas das artes. Enriquecidos pelo comércio marítimo apoiam e protegem homens de letras nacionais e estrangeiros, concedendo bolsas para estudo no estrangeiro ou encomendando obras de arte ou a construção de edifícios que glorifiquem os seus reinados. A maioria dos estudantes que saem do país para conhecer a cultura europeia humanista e contactar com sábios e pensadores da época vão para Itália e não para a Flandres já que as autoridades e mecenas desconfiam do ensino ministrado no norte da Europa, mais próximo dos movimentos protestantes. 
  • D. João III vai contratar para a reforma da Universidade de Coimbra, os estudantes portugueses regressados do estrangeiro. Modernizam o ensino, difundindo o humanismo
  • Criado o Colégio das Artes em Coimbra em 1548 dirigido por André de Gouveia para preparar os estudantes que irão para a Universidade. Mas os professores por si contratados começam a ser perseguidos e interrogados pela Inquisição e fogem de Portugal passando o colégio a ser gerido pelos Jesuítas retomando métodos da escolástica medieval para combater as ideias reformistas. 
  • D. Miguel da Silva, bispo de Viseu mecenas do século XVI em Portugal foi dos homens mais ilustres do país agindo como um mecenas italiano. Apoiou intelectuais e artistas como Vasco Fernandes (Grão Vasco) procurando disseminar a estética renascentista no norte do país, menos influenciada pelo manuelino régio. 
Humanismo e Antropocentrismo - a rejeição do medieval 
  • Apesar duma propaganda cortesã anunciando a ruptura com o antigo, a cultura de quinhentos na Europa surge como evolução das mudanças verificadas nas cidades e ambientes universitários, desde o século XII e XIV. O Humanista é um intelectual moldado nas cidades e ambientes cosmopolitas europeus, que, influenciado pelas obras antigas e pelo ambiente de recrudescimento económico, sente uma curiosidade redobrada pelo estudo e investigação. Reagindo à asfixiante mentalidade religiosa escolástica, unívoca e fechada dos conventos e mosteiros medievais, o humanista cultiva a crítica e a leitura livre das obras e do pensamento dos antigos. O Homem substitui Deus  como tema de reflexão sobre o mundo. Embora religiosos, estes pensadores humanistas não são ateus ou agnósticos mas sim crentes mas não num Deus castigador e penalizante. 
Utopia e Renascimento  
  • A liberdade e abertura intelectual que marcou o Renascimento em muitos países da Europa suscitou o aparecimento das utopias das quais a mais conhecida é a obra prenunciadora do socialismo, Utopia de Tomas Moro. Considera-se que o homem é naturalmente bom e pleno de qualidades sendo a sociedade culpada dos seus maus vícios e defeitos. Estes ideias e esta visão do mundo vai-se acentuando ao longo dos século XVII e XVIII até ao iluminismo que irá por em evidência a natureza revolucionária destas propostas e a sua visão libertadora. 
Arte em Portugal

  • Especialistas consideram o manuelino como derivação do gótico final com influências expansionistas, mudejares, e heráldicas. Influências do Renascimento flamengo tal como em Espanha, no século XV e italianas a partir do século XVI. O bispo de Viseu D. Miguel da Silva surge como mecenas que apoia artistas e dissemina o estilo italiano pelo norte do país.